segunda-feira, 30 de abril de 2012

Governo federal se inspira nas três leis dos dados abertos



Prezados leitores, não são poucas as autoridades que se vangloriam de divulgar ”dados abertos” que, na verdade, são fechadíssimos. Um exemplo é a lista de Convênios por Indicação Parlamentar que o governo de São Paulo, após muita pressão, tornou públicos no final do ano passado. A relação de convênios (espécie de mapa das emendas paroquiais dos deputados paulistas, que revela quem apadrinhou qual cidade ou entidade beneficiada com verbas públicas), em um primeiro momento, foi levada à internet em PDF, um formato das trevas, que não permite a tabulação dos dados. Eu e meu colega Fernando Gallo perdemos preciosas horas na operação de extração dos números do PDF e montagem de planilhas que permitissem a hierarquização das informações e respondessem a nossas dúvidas – quem repassou mais recursos? que entidades e cidades foram mais beneficiadas?


Orientadas pelo Palácio dos Bandeirantes, as assessorias de imprensa das secretarias envolvidas se recusaram por dias a divulgar os dados brutos sobre os convênios, que deram origem às tabelas “fotografadas” em PDF e levadas ao site “Prestando Contas“. A situação melhorou muito quando as tabelas em PDF foram substituídas por planilhas em XLS, um dos formatos gerados pelo programa Excel.

Mas a solução ainda está longe da ideal. O XLS é um formato de propriedade da Microsoft. Como a empresa não divulga todas as especificações técnicas desse tipo de arquivo, softwares de concorrentes nem sempre conseguem abri-los sem apresentar problemas de compatibilidade. Ou seja, ao escolher um formato de uma empresa “X” para publicar seus dados, o governo está, na prática, impedindo que os cidadãos tenham acesso a eles, a menos que sejam usuários do software da mesma empresa “X”. A um só tempo, isso prejudica o público e favorece o privado.

O uso de formatos fechados é generalizado em todas as esferas de governo, mesmo nas chamadas páginas de transparência da União.

É alentador, por isso, ver que o Portal Brasileiro de Dados Abertos exibe um link para as três “leis” escritas pelo canadense David Eaves, ativista pela transparência pública, que definem o que são, de fato, dados abertos governamentais.

São elas:

1. Se o dado não pode ser encontrado na web e indexado, ele não existe.

2. Se não estiver aberto e disponível em formato compreensível por máquina, ele não pode ser utilizado.

3. Se qualquer dispositivo legal não permitir sua reutilização, ele não é útil.

Levados a sério, esses princípios farão o Brasil dar um salto no quesito transparência.

Pena, mas pena mesmo, é que o link no portal de dados abertos nos mande para… Enfim, nada é perfeito.

Saiba mais sobre o Portal Brasileiro de Dados Abertos

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Fonte: Blog Públicos, O Estado de S.Paulo (6.mar.2012) | Autor: Daniel Bramatti

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