domingo, 30 de setembro de 2012

Bactéria de mosca para acabar com a dengue.

 
Fiocruz faz testes: mosquito infectado deixa de transmitir vírus nas picadas seguintes
 
Rio - Sabe aquela minúscula mosca que circula em bananas, maçãs e laranjas esquecidas por um tempo? É de uma bactéria presente nesses insetos que pode vir o fim da transmissão da dengue no país — e a erradicação do mal no mundo.

O anúncio foi feito nesta segunda-feira por representantes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Ministério da Saúde, que iniciaram testes com os vetores em Manguinhos.

 
Basicamente, o método consiste em infectar o mosquito Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, que vive naturalmente em insetos como moscas, borboletas e pernilongos.

O micro-organismo não causa danos em humanos, mas funciona como uma "vacina" para o mosquito da dengue. Quando infectado com a bactéria, o Aedes deixa de transmitir o vírus nas picadas seguintes.

“É mais uma forma de se evitar a dengue. Só o governo federal gasta por ano cerca de R$ 800 milhões com programas de contenção da doença”, aponta o secretário de Vigilância em Saúde do ministério, Jarbas Barbosa. A esperança também recai sob a ação reprodutiva do mosquito da dengue infectado com a Wolbachia.

“As futuras larvas de mosquitos já nascem infectadas, gerando novos insetos dentro desta estratégia. A partir disso, não precisamos mais interferir”, explica o pesquisador da Fiocruz Luciano Moreira.

Estudo em campo

O projeto, que conta com investimentos da instituição americana Foundation for the National Institutes of Health, entra em sua segunda fase em maio de 2014. A partir desta data, os mosquitos infectados serão soltos em uma pequena cidade do Rio sob acompanhamento dos cientistas.
 
Em testagem já realizada no ano passado nas comunidades de Yorkeys Knob e Gordonvale, na Austrália. Passadas cinco semanas, todos os Aedes que circulavam já possuíam a bactéria.
Os pesquisadores da Fiocruz, contudo, aguardam aprovação de conselhos científicos de Medicina Ética do País para dar novos passos com a pesquisa em campo, já que envolverá estudo em humanos. O projeto já tem custo de R$ 1,2 milhão, dividido entre o governo brasileiro e a Universidade de Melbourne.

Drama se repete a cada verão

O Brasil é um dos países que mais vivem epidemias de dengue no planeta. As condições climáticas e a concentração urbana favorecem a proliferação do mosquito e contaminação.

Para se ter ideia do impacto da presença do vírus na população do Rio, de janeiro até 15 de setembro, a Secretaria Estadual de Saúde registrou 37 mortes pela doença e mais de 160 mil casos suspeitos.

Na capital, a Secretaria de Saúde contabilizou 133.786 casos de infecção por dengue. Só no bairro de Madureira, a prefeitura registrou 12.599 casos da doença.

No ano passado, o estado registrou 137 mortes e mais de 160 mil registros suspeitos. A capital, novamente, e o Município de São Gonçalo encabeçaram o ranking.
 
Países da Ásia e Oceania também têm projeto semelhante em andamento
O projeto já dá seus primeiros passos também no Vietnã, Indonésia e China, além do Brasil, que está na fase de laboratório, e Austrália, onde há testagem mais avançada, em campo. No calendário dos pesquisadores, é esperado que o país já tenha a fase de avaliação em alguma pequena cidade do Rio de Janeiro.

“Também esperamos realizar testes em Minas Gerais, já que temos laboratórios da Fiocruz por lá. Só não sabemos dizer quando”, adianta Luciano Moreira.

Além de agências reguladoras de saúde, os pesquisadores precisaram ter autorização do Ibama para importar os mosquitos da Austrália, que já estavam infectados pela bactéria.
“Esperamos também ter apoio da população brasileira para o sucesso da implementação da segunda fase do projeto”, lembra Luciano.

Futuramente, países vizinhos ao Brasil também deverão ser consultados e avisados pelo governo sobre a soltura de novos mosquitos em território nacional.
POR Bruno Trezena
Fonte - Jornal O DIA

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